segunda-feira, 10 de novembro de 2008

O vento da impermanencia


Passaros migram para o sul,
asas as vezes são fortes,
corpos as vezes são leves
mas não há quem chegue
não há quem seque
a dor de quem segue
nesse rumo ao sul.
Passaros migram para o sul
cortando o céu azul
riscando de peito nú
o cume do lume
o cimo do ritmo.
O vôo que segue
é o vôo que volta
o vôo que conforta
é o vôo que mata
pois tudo o que agrada
também demarca
também deixa cicatrizes
também sulca com raízes
no fio tênue da impermanencia.
O vôo que conforta
também desfoca
a mão que acaricia
também desagrada
também empunha a adaga
também toca a guitarra.
O vôo para o sul, segue o vento
o vento que vem e vai
o vento que chega com o frio
e deixa o calor, o cio
A chuva que conforta
e rega e semei a flora
é também a chuva que inunda
que ameaça, que destróe.
O corpo que geme
é o corpo que se alegra
que pula, que festeja, que agradece.
E o vento da impermanencia
vem e vai, leva e trás
eleva e desfaz
destróe os mortais
e reergue novos mortais,
o vento da impermanencia
que acaba com tudo o que faz.

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