segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Todo esse tempo


Um pulsar, pulsando
na finitude do cosmo de meu ser
Veias latejando,
brincando com o sangue
que corre por todos os pontos
alentando meus poros
arejando meus olhos
Busquei-te todos os dias
Busquei-te todas as noites
medito sobre mim
medito sobre ti
e percebo só agora
que não existes
que não exististes
que não existirás
E percebo só agora
que não existo
que não existí
que não existirei
Somos unos
somos o tudo
e não somos nada
Usei minha cimitarra em vão
comí com toda a gula o meu pão
cortei muitas gargantas
dizimei a flora e suas plantas
E percebo que estavas aquí
escondida em meu peito
dormindo ao relento
estampada em meu frágil espelho.
Todo esse tempo...
todo esse tempo...
todo esse tempo...

O vôo do condor


O vôo talvez seja o vôo do condor
a dor talvez seja a dor do pavor
o canto talvez seja o canto sem sabor
a voz talvez seja a voz sem cantor.

A ilha é a ilha de meus sonhos,
os filhos são os filhos de meus sonos
meu reinado é esse pequeno reinado
pequeno, sóbrio e inacabado.

Eu queria a montanha do cume mais alto,
ter uma pequena rua para caminhar.
Eu queria todo o poder dos homens
mas aprendi que tudo some, se consome.

Eu queria o voo mais alto
seguido do vôo mais rasante.
Mas tenho apenas meus pés
para caminhadas pequenas e incessantes.

Chuva pela manhã, sol ao meio dia,
pássaros no nascente, o repouso do poente
e meu ser que agora sabe, agora entende

que a busca termina aqui no repouso desse poente.

Feito miragem


Feito miragem, ela sempre está próxima, da mente do coração, mas distante do toque das mãos....
Feito miragem, feito verdade, feito destino, feito vontade, guardo-a sempre comigo.
E sigo, correndo pelas ruas, andando nas calçadas, escalando as luas, acordando as madrugadas...
Madrugadas que já não dizem nada, apenas registram o grito estridente do silencio,
o fluir de meus sonhos e meus pensamentos....

Olhar;


Olhar o meu olhar
olhar o seu olhar
voltar para o meu lar
o simples prazer de caminhar...

Olhar o meu cheirar
cheirar o seu andar
entrar no seu respirar
velejar, voar, marejar...

Trivialidades a missão: parte IV


Início de mais um ano, sim, já falei sobre isso... mas acontece que o ano começa após o carnaval...então terminado o carnaval, estamos aqui, olhando para aquele monte de promessas rabiscadas em uma folha de caderno e o medo já está batendo porque a certeza de não cumprir a metade é imensa.
Tenho sonhado muito...Não, não o sonho acordado de se perder no horizonte e visitar outros planetas e outras galáxias, não o sonho de perder a audição, a fala, e sair "viajando" por ai, mas aquele sonho trazido pelo sono, pelo repouso de todas as partes de meu corpo, de minha mente, aquele sonho de romper-se todas as barreiras de tempo e espaço e simplesmente ser...
Na verdade essa tem sido a melhor hora do meu dia, a hora de meu sono...E quando faço esse comentário, recordo-me de uma frase célebre do Dalai Lama: "As vezes a melhor meditação, é um bom sono". Não sei se é exatamente esse o meu caso, mas tenho visitado tantos mundos, conhecido tantos seres e tantos lugares em meus sonhos...que as vezes não gostaria mais de acordar....
Amo a vida, esse aprendizado diário, diluido nos minutos, nos segundos, nos gestos bruscos, nos leves gestos, nos gestos mecanicos, em nossos condicionamentos, em nossas verdades, em nossas mentiras....
Sim, amo a vida, e todas essas oportunidades que se colocam a nossa frente...
Mas, esses meus sonhos..Ah, esses meus sonhos, como me trazem a felicidade esses meus sonhos...
Bons sonhos,

Guardei seu sorriso comigo


Guardei o seu sorriso comigo!
Naquele exato momento em que o sol morria no horizonte, naquele exato momento em que o sol dourou seu rosto, que a fumaça dos onibus teimava em esconder as luzes, sua luz, todas as luzes clarearam o seu olhar, e cintilando em todos os seus dentes grandes,...
...então...
... guardei comigo seu sorriso, e o sacramentei em meu ser, e o elegi como o momento mais grandioso da comunhão de todas as forças da natureza, e o coloquei no trono de meu olimpo, no reino de meu limbo, para nunca mais de lá tirar.
Naquele momento o elegí, como a cor perfeita, extraída do festival de todas as cores e cheiros que nos banhavam, que brincavam com o mundo.
Esse momento não é mais só seu, ficou estampado como foto colorida no universo de minha mente, na terra devastada e árida de meu ser.
Pobre de tii, pois todos os momentos de sua vida já não são mais só seus, um deles, o roubei e levarei para sempre comigo. Pobre de ti...

O vento da impermanencia


Passaros migram para o sul,
asas as vezes são fortes,
corpos as vezes são leves
mas não há quem chegue
não há quem seque
a dor de quem segue
nesse rumo ao sul.
Passaros migram para o sul
cortando o céu azul
riscando de peito nú
o cume do lume
o cimo do ritmo.
O vôo que segue
é o vôo que volta
o vôo que conforta
é o vôo que mata
pois tudo o que agrada
também demarca
também deixa cicatrizes
também sulca com raízes
no fio tênue da impermanencia.
O vôo que conforta
também desfoca
a mão que acaricia
também desagrada
também empunha a adaga
também toca a guitarra.
O vôo para o sul, segue o vento
o vento que vem e vai
o vento que chega com o frio
e deixa o calor, o cio
A chuva que conforta
e rega e semei a flora
é também a chuva que inunda
que ameaça, que destróe.
O corpo que geme
é o corpo que se alegra
que pula, que festeja, que agradece.
E o vento da impermanencia
vem e vai, leva e trás
eleva e desfaz
destróe os mortais
e reergue novos mortais,
o vento da impermanencia
que acaba com tudo o que faz.

Sóis em meu peito



Sóis em meu peito
sois em meu peito
um paradeiro estreito
sem medo e sem receio
sem dedo e sem freio
sois os sóis de meu peito
sois o dedo do meio
o creio e o arreio
sem receio nem enlevo.
Sois água fria e ria
ria da ilha e da ira
mas não ria da mira
que esfria a ilha
que seria nossa alforria
nossa moradia.
Sois invisivel
inconcebivel
intangivel.
Sois caminhada,
sois a mansarda
a eslava
a escrava
a virada
a cimitarra.
Traz o vento
traz em riste o dedo
o freio
o cedo
o meio
e o meu receio.
Sois uma
sois mil
sois vil
anil
pavio
número mil
Mil vezes nascer
mil vezes morrer
mil sóis plantar
mil campos arar
gerar toda fauna
regar toda flora
e não importa
semear-te
plantar-te
cuidar-te
esquecer de mim
viver você.

Diario de bordo: Data Estelar: 28/12/2007


As temperaturas estão variando cada vez mais nesse pequeno planeta azul-acinzentado, sim estão variando... Há dias, cara nave-mãe que quase morremos de frio, tem dias que quase morremos de calor....Uns falam que são efeitos do buraco na camada-de-ozônio, outros falam que é o final dos tempos, outros, que é culpa de todos essa situação, e eu acho que no final,é tudo isso mesmo.
Os habitantes aqui reservam-se datas para comemorar datas especiais, sim cara nave-mãe isso é verdade, por mais confuso que pareça ser, mas há que se ter essas datas, pois nos intervalos entre essas mesmas datas, eles passam o tempo se destruindo, se degladiando e se matando por pequenas coisas, por pedaços de terras, por conflito de idéias, pelo que acham correto que colide frontamente com a opinião de outros que acham que, o que os primeiro acham correto está totalmente errado.
Além da total falta de comunicação e incompreenssão de quando falam a mesma língua, eles tem mais de 100 linguas diferentes , então talvez esteja ai, um dos problemas de sua total falta de comunicação.
Falando em celebração de datas, esse é o mes do natal, nessa data se comemora a vinda de um salvador, um mártir, que no fim não acabou salvando ninguém e ainda foi executado, mas a celebração é a da fé nesse salvador, fé nos princípios e nas lições deixadas por esse salvador, então ficamos aqui confusos, onde foi parar esse salvador? esses dados serão levados a nosso computador de bordo....para tentarmos entender....
Nesse mesmo natal, morreram muitas pessoas nas estradas, muitas pessoas foram presas, os comerciantes comemoraram suas vendas polpudas, os pequeninos da espécie, muitos foram executados, outros são executados lentamente no dia-a-dia, pela fome, pela ausencia de amparo, mas mesmo assim ainda arrumam tempo para fazerem alguns malabarismos nos faróis.
Fizemos vôos rasantes com nossa nave de exploração, visitamos festas, por aqui chamadas de "bacanas", onde havia a celebração de uma falsa alegria, visitamos palanques de politicos onde a celebração era a hipocrisia e também visitamos olhares esperançosos, de amantes, de crianças, de trabalhadores, de mães dedicadas e constatamos que seu olhar era esse mesmo, de esperança, de alegria.
Vimos as novas tecnologias desse planeta e como eles são fascinados por isso, mas cara nave-mãe, oque fazer-se com tanta tecnologia, se eles não possuem a tecnologia básica de convivencia em grupo e de zelar e protege esse mesmo grupo?
Talvez com o "polinomio de benares" em nosso super-computador de bordo, consigamos dar a luz a tantas questões, mas minha conclusão básica, é que por mais material que coletemos, nossos cientistas de bordo e de nosso planeta, nunca chegarão a algum lugar...Enfim...
Pedi ao sr. Sumo e ao sr. Rocharsk para acertarem nossa rota, para rotas circulares sempre fazendo um cruzamento de latitudes e longitudes, de forma que varramos os pontos principais desse planeta e pelo menos suas formas geográficas sejam bem claras para nós...
Sigamos em frente então....
cambio final...

Estrelas no céu


Eu caminhava, uma rua escura, o trabalho nesse dia foi exaustivo, minhas pernas me matavam, os pés ardiam, foi quando olhei para o céu, pontos brilhantes de estrelas explodiam por todos os cantos e agradeci nesse momento, por não ser um astronomo, um meteorologista ou algum outro cientista, ou até mesmo um astrólogo, agradeci por apenas olhar os céus com os olhos de um poeta.
Ví o famoso cruzeiro do sul e procurei no silencio da noite traçar desenhos, encontrar formas no mapa das estrelas, no mapa de meus pensamentos, no mapa de meus sonhos. Fui dormir tranquilo pois minha quota de universo daquele dia, já me havia sido presenteada.

Meus mortos


Meus mortos jazem em mim
Há mortos que jazem alí
meus cães ladram ao meu redor
uma fumaça fétida engole as avenidas
engole os corpos, dança nos escombros.

Seres se foram, seres virão,
aviões no céu, aviões despedaçados, aviões aos pedaços,
pedaços de meu olhar, pedaços dos corpos
corpos semi-tortos, olhares semi-postos.

Pessoas discutem suas fatalidades,
Pessoas lamentam suas dores,
e pegam suas foices
e saem por ai defendendo e deixando
seu cheiro de urina em seus territórios.

Pessoas sofismam em suas hipocrisias,
pessoas entregues a suas tolas melancolias,
enquanto arde em chamas um avião
enquanto arde em coma meu coração.

Diario de Bordo: Data Estelar 12/07/2007


Nosso navegador, tem colocado todos os esforços para uma correção de rota, cálculos e mais cálculos que não estão nos levando a nada no momento. Atravessamos sim, uma chuva de meteoritos, algumas nebulosas, mas desviar dos grandes meteoros é que foi nosso grande problema...Temos problemas com a equipe também e talvez nossa maior missão não seja voltar para a casa após observar esse planeta tão absurdamente perdido em egos, olhares vazios e dissimulados e guerras em todos os níveis.Bom, as vezes nos perdemos com o objetivo de nossa missão e fazemos o que estamos fazendo agora, revemos cálculos, revemos objetivos, revemos anseios, revemos nosso coração.Colhemos material, sim, colhemos muito material, dias atrás em uma dessas coletas nos deparamos com o vôo das borboletas, e chegamos a conclusão que era impossivel estabelecer um destino para o vôo desses seres, já que eles não pretendiam chegar a lugar algum.Após uma reunião intensa, com toda a tripulação da nave (cerca de 50 tripulantes), saímos com a mesma questão da reunião, como sair pelos ares sem objetivo algum e parando a cada cor ou flor que se encontrar pelo caminho? Estamos enviando essa questão para nossa nave-mãe...Vimos travestis em atos sexuais em plena luz do dia, ou seria plena luz artificial do inicio da noite e nos perguntamos o porque do nosso choque, o amor não seria livre? Mas o ato sexual em um lugar público seria amor? E o que na verdade é o amor?Pesquisamos alguns ditos "mestres" desse planeta e alimentamos Hal 9 (nosso supercomputador de bordo) e chegamos a conclusão que o que vimos não era amor, pois após muitos calculos e divagações com as metaforas, aforismos, eufemismos e varios outros ismos Hal 9 nos divulgou um relatório de 3 linhas, dizendo que "amor é algo atemporal, compassivo, tolerante e que não exige nada em troca."Só não conseguimos entender a questão da atemporalidade ainda, pois um dos sábios do planeta em seus textos e apontamentos nos falou da relatividade e da curva do tempo, então, o tempo sempre existe sob a ótica do observador, então o tempo não é atemporal, então o que fazer com o tempo? E com o tempo que temos? E com o tempo que não temos?Bom, voltemos ao Hal 9...Seguimos com a missão, dessa vez pretendemos coletar "gestos", que já falamos tanto, mas nunca nos atentamos detalhadamente....Seguimos com a missão, as vezes abatidos, por andar um pouco em circulos com nossa nave, as vezes mais animados, mas a nossa energia vital, talvez nem Hal 9 tenha, é essa energia de se renovar a cada dia e nunca voltar atras no nosso vôo, em nossa caminhada.

Saara de meu ser.


Estou desistindo de mim mesmo, sim estou desistindo...Esse desistir não é me jogar da ponte mais alta, sair voando da janela de um edifício, ou parar propositalmente a frente de um carro em alta velocidade...acho que é pior, é entregar meus sonhos, é desistir de mim mesmo, é entregar-me a inércia das forças que não movem minha vida, é desistir de tudo e não esperar mais nada.Sou o campeão dos erros, sim, o campeão dos erros, das falhas, o campeão do "tudo que toca, destrói" e estou na verdade, farto de mim mesmo, estou farto, estou cansado, estou sem energia ao menos para respirar, dói-me tudo, dóem-me meus olhos, há um nó na garganta, a cabeça parece inchar querendo explodir e o mesmo acontece com o coração.Sempre pensei assim, sempre fiz assim: cada erro, eu consertaria com no minimo uma meia duzia de acertos....mas acho que a quantidade de erros está muito grande e não estou conseguindo administrar....Na verdade nunca me incomodei, muito em errar ou não errar, sempre julguei tanto o acerto quanto o desacerto como duas faces da mesma moeda, mas a dor é imensa, quando machuco algum ser, ainda mais a um ser que jurei proteger e cuidar para o restante de minhas existencias.Estou farto de mim mesmo, estou farto, sinto-me pequeno, sinto-me infimo e me entrego a minha inércia, ao meu "tudo bem" para tudo, entrego-me as chagas, as feridas que semeei, entrego-me ao flagelo que trago em chaga viva em meu peito, entrego-me aos odores e vermes que jorram de mim e peço perdão, como já pedi tantas outras vezes, por essa minha pequenez, por esses meus erros que semeiam tanta tristeza ao meu redor, esses meus erros mesquinhos e egocentricos que vão semeando "carne viva" e puz pelo caminho.....Ah forças do universo, ah auroras mais boreais, ah olhares mais puros e sinceros, nesse momento eu queria morrer, voltar ao pó, transformar-me em um pequeno grão de areia na poeira do cosmos e ser soprado para o mais distante de tudo, para o mais distante de mim mesmo....Continuo minha caminhada, nessa estrada sem placas, sem árvores, sem referencias, sem oásis, sem regatos para matar a sede, ou mesmo me banhar, sem pássaros, ou animais cruzando o meu caminho. Essa estrada é uma pequena trilha, uma tortuosa trilha no Saara de meu ser.Não há forças ao menos para mudar o passo, as energias se esvairam quando olhei-me defronte e só vi um ser pequeno, um minusculo ser rastejando no lodo de sua existencia.Correr, correr, correr e nunca mais parar nesse Saara de meu ser.

Trivialidades: a missão.


Estou lendo Zygmunt Bauman, "A Vida Líquida", esse livro, se não me engano, faz parte de uma pequena trilogia, o outro é "A Modernidade Líquida", e o outro, não me recordo o nome. A proposta de todos os livros é discutir e comparar a "fluidez" (como a água) dos valores da sociedade moderna, nossas fugas, enfim, a maneira de como vivemos essa fluidez em todos os seus aspectos e é como levar um belo "tapa na cara", e olha que estou no começo, por volta de 1/10 do livro.
Ironicamente, olhei-me, e pensei "ainda bem que sou budista, pois tenho onde me escorar, nesses momentos", acho que a maestria de Bauman é tirar a roupa do ser humano, da própria condição de "ser humano" e nossos artifícios. Separei um trecho interessante, mas por enquanto vou deixá-lo em suspense para transpo-lo aqui no blog, por um justo motivo chamado "preguiça".
A notícia pessimista é que "não temos saída", por mais que busquemos, por mais que procuremos uma luz no fim do túnel, uma saída de emergencia, uma válvula de escape, somos prisioneiros da condição humana e parece que temos um script, um roteiro bem definido a seguir.Falei de minha condição de budista, pois todas as minhas expectativas em relação a vida, acho eu, estão firmemente calcadas nela...Continuo observando tudo ao meu redor, e não sei se estou aprendendo, essa sempre foi minha proposta, acho que aprendo uma coisa aqui, e desaprendo dez ali, e isso as vezes é desanimador, e essa condição leva a outra que é, não me preocupar-me tanto em aprender, mas em viver da melhor maneira e da forma mais amorosa, cada pequena situção a ser vivida, desse imenso quebra-cabeças chamado viver.
Indo dormir, deixo uma pequena frase de Bauman, para se não refletirmos, pelo menos olharmos:
"A condição humana deveria nos tornar mais hospitaleiros com o ser humano".