Tempo de ir
tempo de vir
tempo da desova das trutas
tempo das buscas, das lutas
tempo do plantio de novas mudas
dos ramos, dos baianos e dos ciganos
tempo de olhar eclipses,
tempo de render-se a notícias
que dizem que um dia, vais voltar..
Tempo de decisão
mas também tempo de comunhão
de seguir a direção das mãos
que juntas são órbitas, são cometas
o traçado perfeito e infalível de estrelas
tempo de partir, de ficar, de seguir
Tempo de arrumar as malas
de não levar muitas tralhas
pegar mais uma vez o carro, o bonde
e partir para onde o olhar se esconde.
Tempo de partir seguindo o mapa
partir para a estrada em sua fronte]
sabendo que estará ao meu lado
alguém que lutou as mesmas lutas
alguém que não conheceu todas as fruta
se também só quer um canto manso
um canto para descansar e dormir
um canto saboreando o caqui
descobrindo que nosso destino
é somente aqui, na vastidão de teu olhar.
terça-feira, 13 de novembro de 2007
quinta-feira, 18 de outubro de 2007
A ladeira que levava ao céu
Quando era criança, levávamos aquela vida de ciganos, ora aqui, ora ali, era impressionante nossa capacidade de não morarmos nem um mes em um lugar.
Certa vez, fomos morar na casa de minha avó, a casa, um sobrado, era bem localizada, ficava na avenida principal, em uma esquina no bairro em que já tinhados morado em todos os cantos, passei a me sentir muito importante por morar ali, com minha avó, minha tia e dois tios e naquela casa grande e bonita.
Em uma das raras vezes, quando parava na janela, minha mãe encostava ao lado e certo dia, ela apontou para uma rua, uma pequena ladeira, que também fazia uma pequena curva e terminava atrás de umas árvores, dando a impressão para nós que olhávamos de nossa janela, que essa pequena ladeira não terminaria nunca.
- Tá vendo ali filho, essa ladeira é a ladeira que leva para o céu - disse minha mãe, em um raro momento de mansidão.
Passei a sempre que podia, parar sobre a janela, debruçar meus ombros e ficar ali por horas e horas observando quem ia para o céu, e todas as pessoas que desciam aquela pequena ladeira, eu torcia por elas, para elas chegarem "bem" ao céu: a moça que descia calmamente, a mãe que descia apressada arrastando o filho pelas mãos, o senhor que parecia voltar do trabalho e ir diretamente para o céu ("que maravilhoso isso, ir para o céu e nem parar em casa") ...
Certa vez, achei magnífico, estava descendo uma banda, uma fanfarra, diretamenta para o céu, aquilo era sublime, fiquei radiante e pensei comigo mesmo:
- Puxa, o que uma banda deve ter feito, para eles todos merecerem ir para os céus e juntos ainda?
Como éramos nômades, e minha avó em sua maestria de matrona da discórdia, semeando as intriguinhas entre os irmãos, certo dia, em mais uma das brigas familiares, minha mãe arrumou as malas e partimos.
Senti, por sair da casa de minha avó, senti por perder o privilégio de ter uma das únicas janelas do bairro que tinha a vista da ladeira que ía para o céu, senti por perder a "capelinha" (uma pequena capela, que ficava na esquina ao lado da casa de minha avó, e era as vezes meu ambiente de refúgio, olhando imagens, vendo as velas, vendo as pessoas totalmente entregues a sua fé e seus pedidos de clemência e ajuda).
Passaram-se anos, e eu sempre me perguntava, como podíamos ser tão exclusivos, e termos esse privilégio de termos a bela visão da laderia que levava ao céu? Certo dia, descobrí que aquilo não era verdade, olhei para aquilo até com certa normalidade, tinha aprendido a ter esse olho, de enfrentar os momentos difíceis com o olho da normalidade, e aquele era um momento mais que dificil.
Passaram-se mais alguns anos, e certo dia, em um pequeno momento, conversando com minha mãe, perguntei:
- Mãe, lembra da "ladeira que levava ao céu"?
Ela começou a sorrir e comentou:
- E não é verdade filho, aquela rua não parecia que levava ao céu?
A minha decepção, com toda essa história, aplacou-se um pouco, pois percebí que ela em seus limites, em sua história de vida, fazia de tudo para acreditar que aquela rua, era aquilo mesmo, uma ladeira, uma pequena ruazinha que nos levava para esse lugar, um lugar bem melhor para se viver.
Ha pouco tempo atrás, conversando com uma amiga, que é mãe, ela comentou:
- Há "mentirinhas" tão boas na infancia, elas são lúdicas, elas nos dão referencias, diretrizes, para nosso caminho do amadurecimento.
Lembrei então, da história da "ladeira que levava ao céu", e lembrei tantas outras "mentirinhas" que ouví na infancia e da decepção posteriora, ao ver que aquelas verdades, eram tolas mentiras. Pensei também que não senti nenhum "aspecto lúdico" nessa história e tantas outras histórias que eram apenas isso, "mentirinhas".
Pensei então, em minha particular experiência, que crianças tem que ouvir histórias sabendo quando são mentiras e sabendo quando são verdades, para no futuro conseguir trafegar com mais segurança na relatividade desses dois pólos. Pensei que durante anos, carreguei algumas mentiras e nunca gostei disso, mas, por outro lado tenho boas lembranças dessas histórias pois sei que quando minha mãe as contava para mim, estava contando para ela também, tentando acreditar naquilo. Então, eu olhava para todas as histórias que ouvi em minha infância e me perguntava sobre o que seria mentira, sobre o que seria verdade.
Atualmente, acho que já fiz uma releitura de todas, e me localizei melhor e quando olho para os meus filhos, penso que, eu em minha vida quero fazer o inverso, não quero mostrar a realidade nua e crua, quero apenas que eles me tenham na memória como o homem que era sincero, e quando ia enveredar por alguma fábula, por algum "evento lúdico", apenas avisava antes, dizendo "agora é tudo brincadeira, então vamos brincar um pouco"...
Certa vez, fomos morar na casa de minha avó, a casa, um sobrado, era bem localizada, ficava na avenida principal, em uma esquina no bairro em que já tinhados morado em todos os cantos, passei a me sentir muito importante por morar ali, com minha avó, minha tia e dois tios e naquela casa grande e bonita.
Em uma das raras vezes, quando parava na janela, minha mãe encostava ao lado e certo dia, ela apontou para uma rua, uma pequena ladeira, que também fazia uma pequena curva e terminava atrás de umas árvores, dando a impressão para nós que olhávamos de nossa janela, que essa pequena ladeira não terminaria nunca.
- Tá vendo ali filho, essa ladeira é a ladeira que leva para o céu - disse minha mãe, em um raro momento de mansidão.
Passei a sempre que podia, parar sobre a janela, debruçar meus ombros e ficar ali por horas e horas observando quem ia para o céu, e todas as pessoas que desciam aquela pequena ladeira, eu torcia por elas, para elas chegarem "bem" ao céu: a moça que descia calmamente, a mãe que descia apressada arrastando o filho pelas mãos, o senhor que parecia voltar do trabalho e ir diretamente para o céu ("que maravilhoso isso, ir para o céu e nem parar em casa") ...
Certa vez, achei magnífico, estava descendo uma banda, uma fanfarra, diretamenta para o céu, aquilo era sublime, fiquei radiante e pensei comigo mesmo:
- Puxa, o que uma banda deve ter feito, para eles todos merecerem ir para os céus e juntos ainda?
Como éramos nômades, e minha avó em sua maestria de matrona da discórdia, semeando as intriguinhas entre os irmãos, certo dia, em mais uma das brigas familiares, minha mãe arrumou as malas e partimos.
Senti, por sair da casa de minha avó, senti por perder o privilégio de ter uma das únicas janelas do bairro que tinha a vista da ladeira que ía para o céu, senti por perder a "capelinha" (uma pequena capela, que ficava na esquina ao lado da casa de minha avó, e era as vezes meu ambiente de refúgio, olhando imagens, vendo as velas, vendo as pessoas totalmente entregues a sua fé e seus pedidos de clemência e ajuda).
Passaram-se anos, e eu sempre me perguntava, como podíamos ser tão exclusivos, e termos esse privilégio de termos a bela visão da laderia que levava ao céu? Certo dia, descobrí que aquilo não era verdade, olhei para aquilo até com certa normalidade, tinha aprendido a ter esse olho, de enfrentar os momentos difíceis com o olho da normalidade, e aquele era um momento mais que dificil.
Passaram-se mais alguns anos, e certo dia, em um pequeno momento, conversando com minha mãe, perguntei:
- Mãe, lembra da "ladeira que levava ao céu"?
Ela começou a sorrir e comentou:
- E não é verdade filho, aquela rua não parecia que levava ao céu?
A minha decepção, com toda essa história, aplacou-se um pouco, pois percebí que ela em seus limites, em sua história de vida, fazia de tudo para acreditar que aquela rua, era aquilo mesmo, uma ladeira, uma pequena ruazinha que nos levava para esse lugar, um lugar bem melhor para se viver.
Ha pouco tempo atrás, conversando com uma amiga, que é mãe, ela comentou:
- Há "mentirinhas" tão boas na infancia, elas são lúdicas, elas nos dão referencias, diretrizes, para nosso caminho do amadurecimento.
Lembrei então, da história da "ladeira que levava ao céu", e lembrei tantas outras "mentirinhas" que ouví na infancia e da decepção posteriora, ao ver que aquelas verdades, eram tolas mentiras. Pensei também que não senti nenhum "aspecto lúdico" nessa história e tantas outras histórias que eram apenas isso, "mentirinhas".
Pensei então, em minha particular experiência, que crianças tem que ouvir histórias sabendo quando são mentiras e sabendo quando são verdades, para no futuro conseguir trafegar com mais segurança na relatividade desses dois pólos. Pensei que durante anos, carreguei algumas mentiras e nunca gostei disso, mas, por outro lado tenho boas lembranças dessas histórias pois sei que quando minha mãe as contava para mim, estava contando para ela também, tentando acreditar naquilo. Então, eu olhava para todas as histórias que ouvi em minha infância e me perguntava sobre o que seria mentira, sobre o que seria verdade.
Atualmente, acho que já fiz uma releitura de todas, e me localizei melhor e quando olho para os meus filhos, penso que, eu em minha vida quero fazer o inverso, não quero mostrar a realidade nua e crua, quero apenas que eles me tenham na memória como o homem que era sincero, e quando ia enveredar por alguma fábula, por algum "evento lúdico", apenas avisava antes, dizendo "agora é tudo brincadeira, então vamos brincar um pouco"...
Amigo
...se sou amigo
posso ser abrigo
Se sou abrigo
posso ser refúgio
Se refúgio
um porto seguro
Se seguro
um fruto maduro
Se maduro
um lugar antes obscuro
Se antes obscuro
uma luz no escuro
Se uma luz no escuro
um cais no futuro
Se um cais no futuro
uma terra além do muro
Se além do muro
uma casa sem fundos
Se uma casa sem fundos
uma luz no fim do túnel
Se uma luz no fim do túnel
um guerreiro invencível
Se um guerreiro invencível
o trovador bem sensível
Se trovador bem sensível
um amigo invisível
Se amigo invisível
o amigo tardio
Se amigo tardio
cobertor para o frio
Se cobertor para o frio
folha solta no rio
Se folha solta no rio
um refúgio, um abrigo
Se refúgio, um abrigo
estar ao lado, ser amigo
Se sou amigo...
sábado, 13 de outubro de 2007
Gritar
Gritar, gritar, gritar
destruir as vidraças
sacudir as carcaças
desfazer as amarras
varrer o mundo
sombra da dor
sombra do pavor
marcado a fogo em meu coração.
Gritar, gritar, urrar
açoitar as casas
dizimar as raças
liberar as desgraças
ferroar teu peito
e mostrar o bolor, o pavor
a dor extrema, a dor de morte.
Gritar, urrar, morrer
varrer teu ser como furacão
ser todas as desgraças
todas as ameaças, todos os flagelos
ser verme e roer tuas entranhas.
Acabar com tua raça, tua beleza e manha
sacrificar-te em todos os altares
fazer-te voltar ao pó
espalhar-te, então, satisfeito ao vento
e só assim deitar em um canto, e morrer.
Naquele reino
Naquele reino, haviam muitas donzelas
as cambaleantes, que cheiravam mal
as famigeradas, que comiam sal
as descabeladas, de olhar desigual.
Naquele reino, haviam vários cavaleiros,
haviam aqueles de espada na mão, estilo festeiro,
haviam os bravos Lancelotes, os tolos feiticeiros,
mas tambem haviam maltrapilhos Quixotes, apenas guerreiros.
Ela não era a donzela da torre
ela ao menos pertencia a esta corte
ela falava em uma lingua estranha
a lingua dos elementos, talvez a lingua dos sedentos.
Ela trazia água em um pote
e eu, apenas minha espada forte,
ela trazia um raio em seu olhar,
e eu, apenas meu cavalgar.
Ela vinha de terras gélidas
e ensinava o nome das estrelas com o mesmo olhar
eu apenas tinha a vontade de cavalgar
e não mais parar no raio luminoso de seu olhar.
Mutar
Mutar
É bem alí,
remando um barco
ou aqui, chupando laranja.
É bem alí,
deitado na cama, olhando o teto,
ou aqui, sentindo o vento arrepiando o mar.
É bem alí,
andando nú, nascendo com o sol
ou aqui, aprendendo com o criador
É bem alí,
pintando caprichosamente as alvoradas
ou aqui, fazendo amor sem pressa.
É bem alí,
admirando a paz crescida,
ou aqui, crescendo e aprendendo com ela.
sexta-feira, 12 de outubro de 2007
Um castelo acabou de ruir
Um castelo acabou de ruir
Um castelo acabou de ruir
percebí pelos estrondos da revoada dos patos.
Um castelo acabou de ruir
ergam-se todas as espadas, liberem as naus e suas amarras
e deixem meu peito, meus ossos e sangue descansarem em paz.
Urge uma canção do bardo para esse momento
tirem os servos dos poços
e todos os cavaleiros juntem seus esforços
para resgatar meu corpo entre o pó e os escombros.
Um castelo acabou de ruir
quero só correr por aí
e cantar minha canção sem rima e métrica
aos quatro cantos do mundo
aos deuses da morte e da guerra
Devolvam-me meu peito
devolvam-me meu reino
este reino pequeno e sem jeito
alicerçado com os ventos do norte.
Um castelo acabou de ruir
assim como um riso acabou de fugir
uma aurora nasce com o porvir
quero minhas armas, cavalo e amada
quero o brilho de minha espada
quero meu castelo de bandeiras tremulantes
só não quero os fossos obscuros
só não quero cantos inseguros.
Um castelo acabou de ruir
tempo de limpar e semear o terreno
aliviar os tolos, resgatar os mortos
demarcar, projetar novos muros
entender o porque do escuro
e tocar uma canção suave em meu alaúde
erguer um novo castelo sem calabouços
onde eu possa apenas descansar.
Algemas
A lua brilhando no céu
não é o sonho ou esperança de alguém
é apenas um astro brilhando ao léu
num compasso...
As andorinhas brincando numa dança
não são crianças nem tambem uma aliança
são sómente avez em busca de alimento
talvez no abstrato...
O mar que quebra na praia
não é o choro da deusa marinha
são apenas águas surrando pedras vazias
com cansaço....
A jaula aberta, escancarada
pode não ter sido por alguém arrombada
apenas as grades foram desencantadas
escapamos das algemas sufocadas
pro espaço..."
Algemas
Algemas
A lua brilhando no céu
não é o sonho ou esperança de alguém
é apenas um astro brilhando ao léu
num compasso...
As andorinhas brincando numa dança
não são crianças nem tambem uma aliança
são sómente avez em busca de alimento
talvez no abstrato...
O mar que quebra na praia
não é o choro da deusa marinha
são apenas águas surrando pedras vazias
com cansaço....
A jaula aberta, escancarada
pode não ter sido por alguém arrombada
apenas as grades foram desencantadas
escapamos das algemas sufocadas
pro espaço..."
quinta-feira, 7 de junho de 2007
Teu olhar
Bate a brisa gélida, ventos do norte
bate a brisa mansa e mais forte
carregando o farol luminoso de teu olhar
Brisa e farol que apontam um porto seguro
onde chegar, onde partir, onde voltar.
Cavalguei olhos de tempestades
conheci o mundo e seus mistérios
ri um pouco ao lado dos histéricos
e eis-me aqui inerte, entregue, vencido
por teu frágil olhar.
O olhar que dissolve todos os venenos
que aplaca ventos fortes de meu ser,
que varre e semeia os terrenos
o olhar que varre os polos, os extremos
esta brisa que aponta para um lugar.
Rendo-me a ti brisa mansa
rendo-me a ti dança das crianças
dança entre céu e terra
dança entre paz e guerra
entre planícies e serras
de teu frágil olhar.
Bate a brisa gélida, ventos do norte
bate a brisa mansa e mais forte
carregando o farol luminoso de teu olhar
Brisa e farol que apontam um porto seguro
onde chegar, onde partir, onde voltar.
Cavalguei olhos de tempestades
conheci o mundo e seus mistérios
ri um pouco ao lado dos histéricos
e eis-me aqui inerte, entregue, vencido
por teu frágil olhar.
O olhar que dissolve todos os venenos
que aplaca ventos fortes de meu ser,
que varre e semeia os terrenos
o olhar que varre os polos, os extremos
esta brisa que aponta para um lugar.
Rendo-me a ti brisa mansa
rendo-me a ti dança das crianças
dança entre céu e terra
dança entre paz e guerra
entre planícies e serras
de teu frágil olhar.
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